Visão metafórica sobre o amor

"O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que doi e não se sente..."(.) Com esta frase extraída do texto de Luis Vaz de Camões (1524-1580), pretendo falar sobre a importância desse sentimento para todos nós. Obviamente, muito do que for dito aqui, será do seu conhecimento porque a temática amorosa é uma constante em todas as escolas humanas.

A citação acima é o começo de um poema cuja preocupação é demonstrar as incongruências de um sentimento tido pelo poeta como avassalador, o qual costuma se tornar uma doença da própria alma de quem o vivencia, agindo como uma droga que, apesar de fazer mal, não consegue ser rejeitada. Não é atoa que, na composição deste poema, o autor se refere ao amor como um "contentamento descontente". Em si, você já pode perceber quão incoerente é esse contentamento sem contentamento. Isto é, como é que alguém pode dizer-se contente, estando descontente? Esta é uma das façanhas do impretadas pelo amor camoniano.

Há muitas modalidades de amor, adaptadas ao gosto do seu "manifestante". Muitos, entretanto, confundem apego excessivo com esse sentimento incomensurável, impalpável, imaterial e abarcador dos desejos, ilusões, fantasias, viagens conscienciais e desterramento, quase completo, da sistemática real. O amor é isso: é tudo, é todo, é tido como tal.

Vem-me agora à lembrança as frases do apóstolo Paulo sobre a importância do amor na sua vida. Não apenas como algo sentido, mas como forma de fortalecer a razão das suas ações perante o mundo com base numa percepção metafísica da natureza humana. Através desse sentimento, Paulo demonstra ter conseguido uma façanha realizada por poucos: ele conseguiu se encontrar. Ou seja, descobriu e experimentou a sua verdadeira essência que, na sua nomenclatura, era o amor. Paulo percebeu quem era, do que era feito e qual era a origem da sua composição. Entendeu que sem o amor, o amor de Deus, ele não era nada.

"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine". Com esta constatação, o apóstolo Paulo assumia que a essência da existência estava em vivenciar o amor sincero, verdadeiro, transformador e supra-humano. Para ele não adiantava falar a língua dos seres celestiais, porque ela não produziria efeito milagroso sem o poder mágico desse sentimento.

Paulo instala o conceito de essência para as ações, posturas e valores na vida das pessoas. Claro que ele não falava de um desejo carnal ou de uma atração física. E sim, de um sentimento cuja exigência para ser manifestado deveria ser a verdade da alma no auditório da consciência, sem rodeios, invenções ou máscaras.

O apóstolo ainda profetiza a impossibilidade de o amor falhar. Significando dizer que, se essa energia se faz presente no coração e no espírito de alguém, de modo singularmente verdeiro, nunca haverá falhas no seu poder de transformação universal. O indivíduo estará tão inundado pelo sagrado poder desse quantum cósmico afetivo que tudo em sua volta, e dentro de si, funcionará perfeitamente, mesmo que, aos olhos profanos, não pareça.

Vinícius de Moraes (1913-1980) diz o seguinte: "Encontrei em você a razão de viver e de amar em paz e não sofrer mais, nunca mais. Porque o amor é a coisa mais triste quando se desfaz". Essa visão sensorial sobre o amor é quase uma marca registrada do nosso poeta, que não poupa palavras e nem expressões sinestésicas para demonstrar o quão intenso era vivenciar o prazer da emoção saída dos olhos, da crane, dos poros e das vibrações celulares nos organismos. Vínicius era intenso e muito cônscio das suas necessidades, digamos, amorosas.

Num de seus poemas, o poeta carioca determina: "Eu possa me dizer do amor (que tive): que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure". Talvez essa tenha sido uma das constatações mais próximas da forma como ele encarava o amor. É possível que Vinícius nunca tenha se interessado pela eternidade de coisa alguma, mas sim, pela intensidade das experimentações, e quanto mais intensas, mais eternas (lembradas) elas seriam.

Amor cósmico, intenso, eterno ou finito. Não importa os limites que se imponham ao amor, e nem as formas como o compreendemos ou venhamos a exteriorizá-lo. O importante é perceber a força que move os seres humanos em direção a uma eternidade desconhecida, porém, intuída por todos como o ponto de chegada dos caminhantes dessa jornada universal. A essa força, podem ser comparadas quaisquer outras, como as classificadas por Saulo de Tarso (Paulo), em suas epístolas divinamente produzidas.

Falar de amor verdadeiro seria ilusão descritiva, por se tratar de algo pouco acessível aos seres da Terra, já que estes se encontram num padrão vibracional tão densificado pela matriz holográfica dos sentidos e das percepções sensoriais que não conseguiriam captar as sutilezas mágicas desse sentimento divino universal, característico da nossa verdadeira essência quântica.

Numa analogia simples, seria o mesmo que não conseguir entrar num salão limpo porque os pés estariam muito sujos. Ou seja, primeiramente, ter-se-ia que limpá-los, e bem, para ter a permissão de adentrar ao salão. Isso não impede, no entanto, de mesmo do lado de fora, declamarmos axiomas como os do poeta Isaias Medeiros, que diz: "amor é provar que, por dois pontos quaisquer de um plano do destino, passam inúmeras retas, mas apenas uma permanece unindo-os, enquanto ninguém conseguir provar o contrário".

Para finalizar, acrescento a minha visão metafórica sobre o amor ao dizer que ele é a serpente do éden e a luz sobre a minha semente! É o todo distorcido, em frangalhos, suprimido, este amor que não se vê, arde e sente, é amor patrono e total, quase indecente. O amor é tópico frasal sem explicação. É ferida sentida e, aberta, admoesta o coração. É produto da soma dos quadrados (a² + b²), é a hipotenusa (h²) da minha solicitude desmedida. Ele complica, enobrece e resolve a minha vida; e sem ele, eu nada seria.


Autor: Gesiel Albuquerque

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