França, 2015: somos todos um
Quanto aos atentados ocorridos na França em Janeiro deste ano, o mundo ficou chocado com a brutalidade cometida pelos terroristas islâmicos que, na ânsia de vingar o profeta Maomé, não pouparam tiros contra os alvos e alguns inocentes. O fato realmente foi trágico e chocou a opinião pública mundial.
Je ne suis pas Charles Hebdo!
Líderes políticos, religiosos e a sociedade organizada se mobilizaram contra tais crimes e em favor da liberdade de expressão. Há muito tempo, a humanidade vem brigando por garantias à sua liberdade de não só se locomover, mas também expressar o que pensa e sente. Mas..., tem um quê nisso tudo.
Em que pese a perversidade dos atos e o ataque à dita liberdade de expressão, e também a mobilização de milhões de pessoas em favor da vida, não posso deixar de registrar a covardia de quase todos envolvidos nestas mobilizações por não criticarem também as atitudes dos cartunistas mortos.
Foi uma barbárie, isso é fato. Mas eles (os cartunistas) já vinham provocando a religião islâmica e seu símbolo maior (o profeta Maomé) há tempos. As minhas perguntas são: a troco de quê? Qual lado, de fato, é o intolerante, o dos cartunistas ou o islâmico?
Busquei entender (e não consegui) a razão de um jornal publicar em suas páginas desenhos do profeta Maomé, ajoelhado, de quatro, com os testículos à mostra, ou fazendo sexo anal em Deus (supostamente), com um triângulo enfiado no ânus; ou ainda beijando outro homem. Volto a me perguntar: a troco de quê? O que buscavam os cartunistas com estas ações? Por que mexer com símbolos sagrados de uma religião? Ainda não encontrei resposta.
Je ne suis pas Charles Hebdo!
A mídia tem divulgado, com tanta ênfase, a importância do respeito ao direito de se expressar. Mas expressar-se desta forma? É isto que significa exercer a liberdade de expressão? Atingir conteúdos e símbolos considerados intocáveis, para os seguidores de uma religião, é a opção mais inteligente? E alguns acham que foram covardemente atingidos na sua lntegridade? Tenho minhas dúvidas.
Sou totalmente contrário aos atos terroristas, principalmente pelas mortes dos inocentes. Mas acho que os cartunistascutucaram a onça com a vara curta, e não deveriam tê-lo feito. Mexeram em um vespeiro quando não precisavam disso. Mesmo que não suportassem a religião islâmica, seus métodos e crenças, eles deveriam tê-la respeitado e mantido uma distância saudável em relação aos seus seguidores. Porém, fizeram o oposto. E pagaram caro por isso.
Mesmo sensível à dor que o mundo inteiro passa neste momento, não posso deixar de registrar a falta de consideração dos cartunistas mortos, sob o pretexto de usarem a sua liberdade para expressar o que pensavam e o que sentiam, inclusive os seus preconceitos e intolerâncias.
Para aumentar a confusão, uma semana após esta tragédia, o jornal Charlie Hebdo divulga outras charges com o profeta Maomé. É no mínimo uma afronta ao Islamismo e um desrespeito aos que se posicionaram a favor deste jornal. Vejo isso como um convite a novos atentados para os quais os seguidores de Maomé só irão esperar a poeira abaixar.
Ter consideração pelas religiões alheias é bom, conserva os dentes e a vida. Podemos emitir as nossas opiniões com respeito às diferenças, e nunca com desdém. Isso significa exercer a liberdade de expressão. Afinal, se as chargesfossem contra o Cristianismo não haveria reação semelhante? Aqui no Brasil na haveria mortes, porque os cristãos daqui são mais pacíficos. Mas em países como Irlanda, Escócia e Suécia, a coisa seria muito diferente. Repito, respeito é bom e conserva os dentes. Porque, no final das contas, somos todos um.
Je ne suis pas Charles Hebdo!
Autor: Gesiel Albuquerque
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